sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O que vivi nas monitorias


Quando eu estava no 2° semestre fui monitora de Introdução a Antropologia (IA), da doutoranda, na época, Simone Soares, experiência que me foi muito rica em diversos sentidos. O primeiro e o mais claro foi a aproximação com a docência, aspecto que vou abordar mais a frente. Mas outros sentidos, que eu não esperava e que foram muito importantes, se revelaram como: aproximação com a pós-graduação e também de aproximação com realidades pesquisa.


Pois quando eu entrei no curso eu não sabia direito o que era mestrado ou doutorado e ao conviver com uma doutoranda fui entendendo um pouco deste mundo. Durante as aulas e fora delas a Simone falava sobre suas rotinas de aula, seus planos para a pesquisa. A Simone também contava como foi o mestrado, como foi o campo e também me apresentava questões até então desconhecidas por mim, como “você tem vontade de fazer mestrado?”.
 

No 4º semestre fui monitora de Teoria Antropológica 1 (TA1) com a professora Andréa Lobo. Nunca vou esquecer que na primeira aula a Andréa se apresentou falando sobre sua trajetória acadêmica, sobre sua graduação, seus trabalhos dentro e fora da acadêmia, sua relação com a Universidade de Brasília.


Ao ser monitora de TA1, eu me vi com muito mais dúvidas sobre o conteúdo e aproveitando muito mais as aulas do que quando eu fiz TA1. Acho que uma GRANDE vantagem de monitorar uma aula é que você tem uma relação diferente com os textos. Você tenta entender a matéria e antecipar as dúvidas que as alunas podem ter e te perguntar (pelo menos foi isto que aconteceu comigo).  Você começa a pensar na docência.
 

Acompanhar as aulas da Andréa foi riquíssimo, ela dava aula de uma forma inédita para mim, até aquele período do curso. Sempre aproximando o conteúdo do cotidiano, dando exemplos com as alunas. Além de passar um trecho do “Por que ler os clássicos?” do Ítalo Calvino no começo do curso para instigar as alunas sobre o motivo de fazer estas matérias mais consolidadas. 
 

No 6° semestre fui monitora de Métodos e Técnicas em Antropologia Social (MTAS) com a Kelly Silva, minha primeira monitoria que eu já conhecia o estilo de aula da professora. O que foi muito interessante para eu perceber que dependendo do estilo da disciplina algumas dinâmicas de aula mudam. Então foi uma chance de ver as alterações que a Kelly fazia de uma disciplina mais teórica que foi Antropologia Econômica, para uma disciplina mais prática como MTAS.


Em MTAS a Kelly falava bastante de suas trajetórias de pesquisa, dos campos que tinha feito. Era muito interessante perceber alguns problemas e também algumas soluções da pesquisa, principalmente de uma perspectiva didática. A Kelly também procurava incorporar as alunas nas dinâmicas, perguntando coisas como “Alguém já leu o livro Carta de uma orientadora da Débora Diniz? E o que você achou? Pode falar para turma a respeito?” 
 

Também fui monitora duas vezes de Antropologia Econômica (Antreco), no 8º e no 10º semestre. Ambas com a Kelly, o que também foi muito rico para eu perceber como a ementa da matéria mudava de acordo com as leituras e interesses das alunas e também com as próprias leituras da Kelly, como eram preparadas as aulas, entre outras coisas. Ser monitora da Kelly em três matérias diferentes foi incrível!


Bom, fazer todas as monitorias também em momentos distintos da graduação foi muito bacana, pois quando fui monitora de IA eu tinha acabado de entrar na universidade, quando fui monitora de TA1 eu estava começando a me aprofundar nas parte teórica do curso, quando fui monitora de MTAS eu estava fazendo seminário e me preparando para fazer campo, quando fui monitora de Antreco pela primeira vez eu estava escrevendo a monografia e quando fui monitora de Antreco pela segunda vez eu já tinha acabado todas as matérias obrigatórias do curso de antropologia. 
 

Todas estas monitorias foram espaços de rever o conteúdo, ler textos novos e aprender muito com as dinâmicas das professoras e também com a colaboração das alunas. Fazer monitorias é abrir a atenção para docência, você passa a perceber mais os recursos e técnicas utilizadas pelas professoras. Você começa a se perguntar "como eu faria?" para apresentar tal texto ou tal autora...
 

Creio que a monitoria é um espaço de muito aprendizado! Assistir as aulas de novo, porém com mais maturidade sobre o assunto apresentado é muito enriquecedor. As monitorias dentro da minha formação ocuparam um espaço de encantamento com a docência, além das experiências de monitoria terem sido muito importantes para que eu tivesse uma noção real do que esperar da vida acadêmica. 

Agradeço imensamente aos aprendizados de conteúdo e docência nas monitorias das aulas da Simone Soares, da Andréa Lobo e da Kelly Silva! E também as colegas que formaram as turmas quais fui monitora! As alunas/colegas são parte fundamental da monitoria com questões, impressões, percepções e etc.. ! Agradeço também as monitoras das aulas que acompanhei!


obs: Claro que a monitoria não é só alegria. Então adianto que tive algumas chateações enquanto monitora e acho que todas estiveram relacionadas com colegas (o plural masculino é proposital) folgados. Que enviaram e-mails desaforados ou coisas do tipo. Contudo foi 0,1% da turma. Então na balança de prós e contras, os prós estão disparados na frente.

Os pré-requisitos para ser monitora são: ter sido aprovada na disciplina qual está se candidatando ou equivalente (com qualquer menção); cursar 12 créditos no semestre que irá monitorar; e poder acompanhar as aulas que irá monitorar.

Quantos créditos a monitoria integraliza: 2 créditos de módulo livre .

Como ser monitora? Normalmente antes de começar o semestre é aberto o período de inscrição para a monitoria. Depois acontecem entrevistas com as candidatas e depois sai o resultado.   

Ps: Estas informações estão relacionadas com a monitoria no DAN-UNB 
2 Ps : Bom este foi um breve relato das minhas vivências na monitoria, creio que outras pessoas devem aproveitar este momento peculiar da graduação de outras formas e terem outras narrativas.
3 Ps: Foto: modelagem (massinha de modelar "Soft" da acrilex) e canetinha (compactor).
4 Ps: Sugestões, críticas, comentários e/ou respostas, histórias sobre monitoria podem ser enviadas para o e-mail: artesanatointelectual@gmail.com 
5 Ps: Vou tentar postar todas sextas (ou sábado). 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

E se Latour fosse uma mulher?

 

Escrevi este poema (no ano passado) para a epígrafe da minha monografia.


PS: Esqueci de comentar na postagem anterior que na Universidade de Brasília o curso Ciência Política e o curso de Ciências Sociais (Antropologia e Sociologia) são dois cursos diferentes e com entradas diferentes no vestibular.  

2 PS : Em outra semana menos corrida pretendo escrever sobre linguagem inclusiva de gênero.


sábado, 17 de setembro de 2016

(Um pouco da) minha trajetória com a escrita.

Em 2010, ou melhor no 2° vestibular de 2010, eu reprovei a redação. Nesta época eu prestava vestibular pra Ciência Política e achava que tinha perdido um semestre da minha vida, que tinha adiado em seis meses a minha entrada neste curso. Frustrada, me sentia completamente incompetente! Como eu que sempre gostei de escrever tinha reprovado a redação?

Nos meses seguintes ao resultado eu pensava diariamente como a minha vida seria diferente se eu tivesse ido bem naquela redação. Como a minha rotina diária seria outra, como meus estudos seriam outros, como estaria assistindo outras aulas e etc.. E realmente, se eu tivesse passado naquela redação, eu viveria alguma realidade paralela.

Naquela época eu achava que a reprovação e suas consequências eram muito ruins. O que é muito engraçado hoje em dia. Pois o que era encarado por mim como azar em 2010; em 2016 é visto como muita sorte! Que sorte não ter passado naquela redação! Claro, que não mudei de perspectiva do dia para noite.

Não ter passado naquele vestibular foi tão marcante que até hoje eu lembro o tema da redação do vestibular do 2°2010. Enquanto não lembro o tema da redação do 2° 2011 (que foi o vestibular que eu passei). Mas no fundo, lembrar ou esquecer estes temas, não são grande coisa. Apenas mostram que eu estava canalizando minhas energias em lugares equivocados.

Demorou um longo ano entre a reprovação e a aprovação no vestibular. De 2010 para 2011 várias coisas mudaram e acho sinceramente que a mais importante delas foi o curso: deixei pra lá a Ciência Política e descobri a Antropologia! Descobri que queria fazer essa disciplina e cursar suas matérias que pareciam bem interessantes! (E foram! E são!)

Pensar a minha trajetória com a escrita, de certa forma é repensar como a escrita influenciou a minha trajetória. Hoje, graduada em Antropologia, muito realizada com a minha formação até aqui. Penso como foi importante reprovar aquela redação do 2º2010. Um tropeço como este me trouxe literalmente até aqui.

Reprovar aquela redação foi importante para eu parar um pouco e repensar tudo que eu estava fazendo, repensar tudo que eu queria fazer. Me fez também perceber que gostar de escrever, não asseguraria que eu escreveria bem (de primeira). Aquele erro, me fez voltar a estudar português e também me deu a oportunidade de assistir aulas de Sociologia que me levaram até a Antropologia...

Nem só de erros foi traçada a minha trajetória, nela há acertos também (né). Porém, lendo os Truques da Escrita do Becker estes dias, tenho refletido (a partir das considerações de Becker) um pouco em como esconder ou omitir erros ou dificuldades, além de ser uma forma de não perceber a importância daquele momento de aprendizado, pode ser uma forma de aumentar o clima de insegurança para as colegas que acham que apenas elas têm dificuldade de escrever, seja com a redação do vestibular e/ou com a redação acadêmica.

Hoje em dia, eu não sei muito bem o que significa quando alguém diz que tem dificuldade de escrever. Mas eu sei, não apenas porque o Becker disse, que muito dessa dificuldade vem da romantização que se faz da atividade da escrita. Como se para escrever bem, fosse necessário escrever tudo da melhor forma possível logo na primeira vez.

Escrever bem, ou melhor ESCREVER, é muito mais sobre REESCREVER. Entretanto, isto não parece estar tão difundido pelo meio acadêmico e pré-vestibulandico. Sei que o livro do Becker é de 2015, e tive realmente muita sorte de tê-lo encontrado em uma grande crise durante a escrita da minha monografia. Eu adoraria ter lido ele e 2010. Ou em 2007, ou em 2001.

No capítulo 3 “A única maneira certa” o Becker fala que as escolas ensinam os estudantes que a redação é como uma “espécie” de teste: “(…) o professor passa o problema e você tenta resolver, e aí vai pro problema seguinte. Uma chance por problema. Refazer o teste é, de certa forma, ‘trapacear’(...)” (página 72), principalmente se há alguma orientação sobre como melhorar aquela redação.

Não me prolongarei no argumento de Becker neste trecho (que é uma falsa premissa de que existe uma resposta certa ou uma melhor maneira), que colabora para construir o argumento do capítulo (que é que não há uma única maneira de escrever); pois, o que eu gostaria ter conhecido antes, naquela época da redação de vestibular que reprovei era que TUDO BEM não ir bem em um texto que você escreveu em uma seleção e não teve a chance de reescrever.

Redações em vestibular talvez sejam muito mais sobre conseguir organizar ideias em um momento de pressão do que sobre escrever bem. A vida é muito mais densa que um vestibular, há novos/outros vestibulares e oportunidades! Na vida e na escrita não é preciso acertar na primeira vez, é possível reescrever o que deu errado, denotativamente e conotativamente.

Se permita reescrever, se permita reescrever sua trajetória, se permita reescrever sua trajetória com a escrita! Onde seus tropeços te levaram? Ou te levarão?

Por uma escrita afetiva e efetiva!
Cordialmente,
Andreza

Referência bibliográfica: Becker, Howard S. Truques da escrita: para começar e terminar teses, livros e artigos/ Howard S. Becker;tradução Denise Bottmann; revisão técnica Karina Kushnir. - 1.ed - Rio de Janeiro: Zahar; 2015


PS: Tenho outras narrativas com a minha escrita: blogs que não continuaram, escrita da monografia... Pretendo escrever sobre isto depois.
2° PS: Inspirada nos desenhos autorais que acompanham os textos do blog da Karina Kuschnir, fiz a modelagem que acompanha o início deste texto. Não desenho, mas sempre gostei de modelar. Usei massinha de modelar "Soft" da acrilex, Bem mais molenga e fluorescente que as massinhas da minha infância e de secamento quase tão rápido quanto biscuit. No final do texto, foto de post its. 
3° PS: O link do maravilhoso blog da Karina Kuschnir é este: https://karinakuschnir.wordpress.com/
4° PS: Tem um post da Karina Kuschnir sobre o livro Truques da escrita: https://karinakuschnir.wordpress.com/2015/07/15/dez-truques-da-escrita-num-livro-so/
5° PS: Este livro do Becker é divino. Leiam sem moderação! 
6° PS: Sugestões, críticas, comentários e/ou respostas podem ser enviadas para o meu e-mail: artesanatointelectual@gmail.com